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Fotografia de Ilya Kisaradov. |
O amor é
silêncio. Ensimesmado e tenso. Apiedo-me do cabedal de palavratórios com que se
busca denotar o amor, posto que este esgueira-se na esfera das sensações, não
no da linguagem. Esta, carente em sua própria forma, não alcança aquela esfera.
Aproxima-se, apenas, timidamente.
É uma
reclusão em si. Um não querer ver o outro lado. Uma abstinência de glórias.
Amor é feito para ser rico por sua própria renúncia. É o primo pobre da razão. Não
há quem entenda, nem ninguém que se proponha a explicar da forma mais
fidedigna. Mas os poetas teimam nesse mister.
Talvez
porque poeta tem o dom de professar segredos. Poetas têm essa apreciação pelo
que não pode ser comunicável, e o fazem comunicando naquela linguagem abissal e
febril chamada metáfora. O poeta cultiva a arte de ler o ilegível, o herético,
o incômodo, o obscuro, algo que está por detrás da velha porta...
Por essa
razão, creio, poetas são dotados de algumas perversões estranhas. Expõem suas
feridas. Alguns há que não mitigam nem os flagelos que a si impõem. E um mesmo
é o amor que se investe em favor de todos para torná-los, a um tempo, caças e
caçadores.
O poeta
encarna o espetáculo da vida ao tempo em que também é o espectador.
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