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By Kosmur |
Eu não entendo, por mais boa vontade que tenha, a manifestação de quem vai às urnas com o fim de anular o próprio voto. Como um cidadão pode deixar indefinida sua manifestação, enquanto permite que outros decidam em seu lugar. Parece que o indivíduo escolhe para si uma espécie de enclausuramento político, no qual encerra sua individualidade, prostrando a construção coletiva da cidadania.
Um projeto de democracia é uma construção comunitária,
não-individualizada. A manifestação individual é a ação encadeada tendo por fim
a comunidade. Por isso, não está isolada, é a substância de que se alimenta
todo o mecanismo político de representação popular.
A levar-se em conta o descrédito moral como reação natural
das demandas jurídicas relativas às acusações e condenações de corrupção no
país, ainda assim, não creio que a abstenção, embora um direito, seja
manifestação de cidadania.
Cidadania é participação positiva. É um dever de agir; a
abstenção é uma pronta negativa ao dever de agir em prol da coletividade, é um
ausentar-se do compromisso coletivo. A abstenção frente às urnas, ressalvados
os casos de impossibilidade física e psíquica de manifestação política do
votante, é inadequada ao exercício de responsabilidade política e de civismo.
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By Kosmur |
No pleito, a expressão da minha cidadania pelo voto é, a um
só tempo, direito, poder e dever. Direito, porque subjetivo, intangível e
intransferível; poder, uma vez que somos os mandatários do exercício político
de outrem; e um dever, haja vista ser uma obrigação que tange à consecução dos
destinos de uma sociedade inteira, donde se insere aí o princípio da
solidariedade social.
Será que os (mal)ditos cidadãos possuem consciência de que
sua inexpressiva forma de agir é uma condescendência quanto ao que pretende
protestar? Ou que sua tosca manifestação lhes retira da fisiologia deste
macro-organismo político? Aliás, se por livre escolha me ausento do meu
direito-poder-dever de manifestar-me no processo político, igualmente não me
destino a reclamar quanto às situações decorrentes deste mesmo processo.
É uma questão de coerência moral. Portanto, anuladores de
votos: no decorrer dos próximos quatro anos, abstenham-se também de reclamar!
Deitados ermamente em berço esplêndido, assumam ao menos um único voto: o de
silêncio. Sem mais.
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By Stefano |
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