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Davi e Golias, pintura de Michelangelo, afresco da Capela Sistina. |
Os primeiros sábios que começaram a compreender
o mundo viram que o Bem e o Mal coexistiam; observaram igualmente a sombra e a
luz. Compararam o inverno com a primavera, a mocidade com a velhice, a vida com
morte e compreenderam que os dois
princípios do equilíbrio universal não são opostos, embora sejam contrários na
aparência. O Bem acha-se à direita, o Mal à esquerda, mas a bondade (ou a
sabedoria) está acima deles: ela faz o Mal servir ao triunfo do Bem e o Bem à
reparação do Mal, como acreditavam os cátaros. Os cabalistas comparam o
espírito a uma substância que permanece fluida no meio divino sob influência da
luz suprema, mas cujo exterior se endurece como cera exposta ao ar nas regiões
frias do raciocínio. Essas ‘cascas’, esses invólucros petrificados, são a causa
dos erros ou do mal. O Zohar chama os
demônios de cascas.
Vale a pena citar aqui Eliphas Levi que, no
tocante ao assunto, segundo nos convenceram, nossas próprias pesquisas se
refere a um texto antigo do qual parece ter tido conhecimento por algum meio
oculto. “As cascas do mundo dos espíritos”, escreveu E. Levi, “são
transparentes, as do mundo material são opacas; os corpos não são mais do que
cascas temporárias cujas almas devem ser liberadas; mas os que obedecem ao
corpo nesta vida fazem para si mesmos um corpo interior ou uma casca fluídica
que se torna sua prisão e seu suplício após a morte, até o momento em que
consigam fundir-se no calor da luz divina onde seu peso os impede de subir;
eles só chegam lá com esforços infinitos e o auxílio de pessoas justas que lhe
estendam a mão, e durante todo esse tempo são devorados pela atividade interior
do espírito como se estivessem em uma fornalha ardente. Aqueles que chegam à fogueira da expiação nela se queimam a si mesmos e
assim se livram de suas cadeias; a maioria, porém, carece de coragem diante
dessa derradeira provação, que lhe parece uma segunda morte mais assustadora do
que a primeira, e permanecem pois no inferno que é eterno, mas no qual as almas
não são jamais lançadas nem mantidas contra a própria vontade.”
Pensamos que este belo texto encerra inúmeras
verdades e que é necessário meditar sobre ele.
GABIROL, Samuel. A cabala: os mistérios dos
livros sagrados revelados para melhor compreensão dos conhecimentos ocultos da
tradição. Tradução de Octávio Alves Filho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record: Nova Era,
2002, p. 104 e 105. Do original francês:
La Kabbale.
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