14 de setembro de 2016

Os dois princípios do equilíbrio universal.



Davi e Golias, pintura de Michelangelo, afresco da Capela Sistina.

Os primeiros sábios que começaram a compreender o mundo viram que o Bem e o Mal coexistiam; observaram igualmente a sombra e a luz. Compararam o inverno com a primavera, a mocidade com a velhice, a vida com morte e compreenderam que os dois princípios do equilíbrio universal não são opostos, embora sejam contrários na aparência. O Bem acha-se à direita, o Mal à esquerda, mas a bondade (ou a sabedoria) está acima deles: ela faz o Mal servir ao triunfo do Bem e o Bem à reparação do Mal, como acreditavam os cátaros. Os cabalistas comparam o espírito a uma substância que permanece fluida no meio divino sob influência da luz suprema, mas cujo exterior se endurece como cera exposta ao ar nas regiões frias do raciocínio. Essas ‘cascas’, esses invólucros petrificados, são a causa dos erros ou do mal. O Zohar chama os demônios de cascas.

Vale a pena citar aqui Eliphas Levi que, no tocante ao assunto, segundo nos convenceram, nossas próprias pesquisas se refere a um texto antigo do qual parece ter tido conhecimento por algum meio oculto. “As cascas do mundo dos espíritos”, escreveu E. Levi, “são transparentes, as do mundo material são opacas; os corpos não são mais do que cascas temporárias cujas almas devem ser liberadas; mas os que obedecem ao corpo nesta vida fazem para si mesmos um corpo interior ou uma casca fluídica que se torna sua prisão e seu suplício após a morte, até o momento em que consigam fundir-se no calor da luz divina onde seu peso os impede de subir; eles só chegam lá com esforços infinitos e o auxílio de pessoas justas que lhe estendam a mão, e durante todo esse tempo são devorados pela atividade interior do espírito como se estivessem em uma fornalha ardente. Aqueles que chegam à fogueira da expiação nela se queimam a si mesmos e assim se livram de suas cadeias; a maioria, porém, carece de coragem diante dessa derradeira provação, que lhe parece uma segunda morte mais assustadora do que a primeira, e permanecem pois no inferno que é eterno, mas no qual as almas não são jamais lançadas nem mantidas  contra a própria vontade.”

Pensamos que este belo texto encerra inúmeras verdades e que é necessário meditar sobre ele.


GABIROL, Samuel. A cabala: os mistérios dos livros sagrados revelados para melhor compreensão dos conhecimentos ocultos da tradição. Tradução de Octávio Alves Filho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2002, p. 104 e 105. Do original francês: La Kabbale.





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