26 de janeiro de 2016

Recordações oníricas.






Folheando uma velha agenda encontro um enunciado apresentado por ocasião de um sonho. Apesar de a reprodução não ser exata, o conteúdo e a estrutura ficaram bastante próximos. A questão é que ao acordar demorei de proceder à anotação. Assim foi transcrito:

Alma do Homem
Que transpõe o tempo
Oferece a sombra
Tornando-o cativo.


Meus sonhos são voláteis. Sinto enorme dificuldade em lembrá-los. Tais recordações são um rosto, um gesto, um símbolo, historietas sem começo, nem fim.


O refrão do menino no balanço a cantar ritmicamente “chaca wacca, chaca wacca”, com um acompanhamento grave ao fundo. O anel de ônix negro, cuja proximidade parece a pupila dilatada de um gato. A fuga em voo entre grandes paredões de pedras na noite quieta. O retrato na moldura antiga de prata posto numa modesta mesinha de ébano encostada numa parede.


Há vezes nas quais me lembro de ver trechos belíssimos, cuja recordação literal me escapa.


Certa feita li um manuscrito inteiro. Presente ainda aquela sensação de profunda admiração e felicidade genuína com o texto em mãos. Devolvi-o à pessoa que ao meu lado aguardava em silêncio. É provável tratar-se do autor. Mas não me recordo de sua figura. Apenas sei que sorria.


Em contrapartida, há momentos nos quais adormeço mesmo acordada. Várias frases irrompem de algum ponto obscuro e saltam cadenciosas à minha razão. E sou arrebatada pelas emoções por elas provocadas.


Impossível domá-las ao ritmo de um lápis. E nem sempre estou disposta a escrevê-las. Ou são elas que se põem em fuga à sombra do arreio, ou sou eu quem me perco delas e as disperso com a lentidão da linguagem. São versos ferozes. Resta-me apenas o olhar vago, marejado pela beleza da experiência apartada de qualquer expectativa.





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