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Lucrécia de Girolamo Parmigianino. |
Folhagem perfumada de meu peito,
Folhas tuas recolho e nelas escrevo melhor para que sejam lidas mais tarde,
Folhas tuas recolho e nelas escrevo melhor para que sejam lidas mais tarde,
Folhas do sepulcro, folhas corporais crescendo sobre mim, sobre
a morte,
Raízes eternas, folhas altas, ó o inverno não há de congelar as tuas folhas delicadas,
Todos os anos hás de florir outra vez e do mesmo ponto em que te retiraste hás de emergir uma outra vez,
Ó não sei se muitos de passagem te encontrarão ou inalarão o teu tímido perfume, mas creio que ao menos alguns sim;
Ó folhas esbeltas! Ó botões de meu sangue! Permito-vos falar, do vosso próprio modo, sobre o coração que mora em vosso imo,
Não conheço o significado do que vai nas vossas profundezas, não sois a felicidade,
Sois sempre mais amargas do que posso suportar, queimando-me e acicatando-me,
E ainda assim sois maravilhosas para mim, vós, raízes tingidas e abatidas, assim me fazeis pensar na morte,
A morte é maravilhosa vinda de vós (o que, de fato, é inteiramente maravilhoso além da morte e do amor?)
Ó penso que não é a vida que estou aqui cantando em meu canto de amantes, penso que devo estar cantando a morte,
Pois quão calmas, quão solenes elas crescem, para subir até a atmosfera dos amantes,
Morte ou vida, eu sou indiferente, minha alma evita preferir,
(Não estou certo mas a alma elevada dos amantes acolhe a morte acima de tudo.)
De fato, ó morte, penso agora que estas folhas significam precisamente o mesmo que eu significo,
Crescei mais altas, doces folhas, de modo que eu vos possa contemplar! Crescei a partir de meu peito!
Arremessai-vos para longe do coração que ali se esconde!
Não vos guardeis assim nas vossas raízes tingidas de cor-de-rosa, raízes tímidas!
Não permanecei nessas profundezas tão envergonhadas, ervas do meu peito!
Vinde, estou determinado a desnudar este meu peito vasto, pois já por tempo suficiente tenho sufocado e engasgado.
Lâminas emblemáticas e caprichosas, eu vos abandono, pois agora para nada mais servir-me-eis,
Direi o que terei de dizer por si mesmo,
Auscultarei a mim mesmo e a meus camaradas somente, jamais exprimirei um brado novamente, exceto o deles,
Erguerei com ele reverberações imortais através dos Estados,
Darei um exemplo para os amantes que terá forma e vontade permanente, através dos Estados,
Através de mim, as palavras hão de ser ditas para fazer a morte hilariante,
Dá-me o teu tom, portanto, ó morte, para que a ele eu possa harmonizar-me,
Dá-me o que tu és, pois vejo que agora me pertences acima de tudo, e estão dobrados, inseparavelmente juntos, vós, amor e morte,
Não mais permitirei que me estorves com aquilo que eu chamava de vida,
Pois agora sou comunicado de que és a substância essencial,
Que te escondes nestas formas mutáveis da vida, por boas razões, e que elas existem, mormente para ti,
Que tu para além delas avanças para ficar, a real realidade,
Que atrás da máscara da materialidade esperas pacientemente, não importa por quanto tempo,
Que tu irás um dia, talvez, tomar o controle de tudo,
Que irás, talvez, dissipar este inteiro show de aparências,
Que talvez sejas a razão de ser de tudo, ainda que não dures tanto,
E todavia durarás por muito tempo.
Raízes eternas, folhas altas, ó o inverno não há de congelar as tuas folhas delicadas,
Todos os anos hás de florir outra vez e do mesmo ponto em que te retiraste hás de emergir uma outra vez,
Ó não sei se muitos de passagem te encontrarão ou inalarão o teu tímido perfume, mas creio que ao menos alguns sim;
Ó folhas esbeltas! Ó botões de meu sangue! Permito-vos falar, do vosso próprio modo, sobre o coração que mora em vosso imo,
Não conheço o significado do que vai nas vossas profundezas, não sois a felicidade,
Sois sempre mais amargas do que posso suportar, queimando-me e acicatando-me,
E ainda assim sois maravilhosas para mim, vós, raízes tingidas e abatidas, assim me fazeis pensar na morte,
A morte é maravilhosa vinda de vós (o que, de fato, é inteiramente maravilhoso além da morte e do amor?)
Ó penso que não é a vida que estou aqui cantando em meu canto de amantes, penso que devo estar cantando a morte,
Pois quão calmas, quão solenes elas crescem, para subir até a atmosfera dos amantes,
Morte ou vida, eu sou indiferente, minha alma evita preferir,
(Não estou certo mas a alma elevada dos amantes acolhe a morte acima de tudo.)
De fato, ó morte, penso agora que estas folhas significam precisamente o mesmo que eu significo,
Crescei mais altas, doces folhas, de modo que eu vos possa contemplar! Crescei a partir de meu peito!
Arremessai-vos para longe do coração que ali se esconde!
Não vos guardeis assim nas vossas raízes tingidas de cor-de-rosa, raízes tímidas!
Não permanecei nessas profundezas tão envergonhadas, ervas do meu peito!
Vinde, estou determinado a desnudar este meu peito vasto, pois já por tempo suficiente tenho sufocado e engasgado.
Lâminas emblemáticas e caprichosas, eu vos abandono, pois agora para nada mais servir-me-eis,
Direi o que terei de dizer por si mesmo,
Auscultarei a mim mesmo e a meus camaradas somente, jamais exprimirei um brado novamente, exceto o deles,
Erguerei com ele reverberações imortais através dos Estados,
Darei um exemplo para os amantes que terá forma e vontade permanente, através dos Estados,
Através de mim, as palavras hão de ser ditas para fazer a morte hilariante,
Dá-me o teu tom, portanto, ó morte, para que a ele eu possa harmonizar-me,
Dá-me o que tu és, pois vejo que agora me pertences acima de tudo, e estão dobrados, inseparavelmente juntos, vós, amor e morte,
Não mais permitirei que me estorves com aquilo que eu chamava de vida,
Pois agora sou comunicado de que és a substância essencial,
Que te escondes nestas formas mutáveis da vida, por boas razões, e que elas existem, mormente para ti,
Que tu para além delas avanças para ficar, a real realidade,
Que atrás da máscara da materialidade esperas pacientemente, não importa por quanto tempo,
Que tu irás um dia, talvez, tomar o controle de tudo,
Que irás, talvez, dissipar este inteiro show de aparências,
Que talvez sejas a razão de ser de tudo, ainda que não dures tanto,
E todavia durarás por muito tempo.
WHITMAN, Walt.
Folhas de relva. Tradução de Luciano Alves Meira. São Paulo: Martin Claret, 2006,
p. 130 e 131.
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