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Boris Vallejo. |
Sob um grande céu cinzento, uma grande planície empoeirada,
sem trilhas, sem gramado, sem um cacto, sem uma urtiga, encontrei alguns homens
que caminhavam curvados.
Cada um deles levava às costas uma enorme Quimera, tão
pesada quanto um saco de farinha ou de carvão ou os apetrechos de um soldado
romano.
Mas a monstruosa besta não era um peso inerte, ao
contrário, ela envolvia e oprimia o homem com seus músculos elásticos e
potentes; ela agarrava-se ao peito de sua montaria, com suas duas vastas garras
e a cabeça fabulosa sobrepunha-se à fronte do homem, como um desses capacetes
horríveis com os quais os antigos guerreiros esperavam aumentar o terror dos inimigos.
Questionei um desses homens e perguntei-lhe para onde iam
assim, Ele me respondeu que de nada sabia, nem ele nem os outros; mas que,
evidentemente, iriam a algum lugar, pois eram impulsionados por uma invencível
vontade de andar.
Coisa curiosa de se anotar: nenhum desses viajantes tinha
um ar irritado contra a besta feroz pendurada em seu pescoço e colada às suas
costas. Dir-se—ia que as consideravam como fazendo parte deles mesmos. Todas
essas faces fatigadas e sérias não testemunhavam qualquer desespero; sob a
cúpula diante do céu, os pés afundados na poeira de um chão também tão
desolado quanto este céu, eles caminhavam com a fisionomia resignada dos que são
condenados a esperar sempre.
E o cortejo passou a meu lado e se afundou na atmosfera do
horizonte, no local onde a superfície arredondada do planeta se furta à
curiosidade do olhar humano.
E durante alguns instantes eu me obstinava em querer
compreender este mistério, mas logo uma irresistível indiferença se abateu
sobre mim e eu fiquei mais pesadamente oprimido do que eles próprios por suas
esmagadoras Quimeras.
Charles
Baudelaire, Cada um com sua quimera.
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