Esse foi o primeiro texto em prosa que escrevi. Surgiu da necessidade de recordar uma história que rendeu boas risadas. Ele foi escrito antes mesmo da criação do blog. Pra ser mais precisa, creio que o blog foi mesmo uma necessidade natural. Tinha que criar ou acabaria enlouquecendo com as minhas ideias... Enfim, está conforme fora escrito, acho que em 2012... Não me recordo mais.
Essa é uma
história singela. Da época em que os grilos não eram filhos de Deus (ô meu Pai...). (?)
Um belo dia, na
casa da Vovó Ouro, duas adolescentes entediadas por não ter nada de útil que
fazer na vida, resolveram dar um nó na lucidez da Vovó.
Uma, que era a
mais velha das duas irmãs, mas também a que tinha o menor juízo, cismou com a
ideia de que os grilos eram os seres mais intrigantes do mundo.
Justamente numa época em que a população de grilos enchia as casas até o tampo do teto, a de
menor juízo pretendeu sair à caça dos novos moradores. Portando um saco de
plástico, metia a mão em todo buraco que via, para horror dos pequenos que
pulavam na vã esperança de um dia reconquistar a liberdade ora aviltada.
Ledo engano. A
todos restou por prêmio o de serem os protagonistas de uma saga que desencadeou
um misterioso fenômeno, o da Geladeira Furada com seus Grilos Camicases.
Apesar das
exortações da irmã mais nova, e, por assim dizer, a que tinha um juízo mais razoável,
a de menor juízo resolveu que o mais apropriado seria o descarte dos grilos no
guarda-roupa de um tio seu. Aquele que era considerado o mais excêntrico de
todos.
Esse seu tio, era
famoso por um comportamento repetitivo e persistente, que o atava a fiéis hábitos.
Sabendo da dedicação com que se importava com as próprias camisas, todas engomadas
e minuciosamente organizadas, a de menor juízo observou à sua indulgente irmã,
que abrir a porta do guarda-roupa seria a primeira coisa que o tio faria ao
chegar do trabalho.
Dito e feito.
Tudo conforme o planejado, as irmãs se posicionaram para assistir ao ataque da comunidade dos
pobres insetos na retomada para a sua liberdade. Que cena!!! Que fúria
coletiva!!!!!
Coube ao irritado
tio salvaguardar a integridade de suas camisas, e, por consequência, a fuga
daqueles seres vivazes.
No entanto, a
sanha da irmã de menor juízo, não foi contida pelos apelos de sua irmã mais
nova, reforçados pela jocosa secretária, a doméstica que passara a ser também
cúmplice do fenômeno que será agora relatado.
Tomada por
inspiração digamos ainda mais incauta, a irmã de menor juízo recrudesceu na
caça aos grilos, seres de uma natureza bastante peculiar. Arrebatada por uma
criatividade que não conhecia limites, decidiu que o alvo seria a sua simplória
avozinha.
A Vovó Ouro, vale
dizer, possuía a rotina pitoresca de uma diligente dona de casa, sempre
atarefada e entretida com os afazeres que tanto domina. Como a insensatez da
jovem e o silêncio das duas cúmplices poderiam envergar a lucidez de tão nobre
senhora?
Era um costume
naquela casa congelar o leite de vaca num vasilhame inox, dentro do congelador.
O leite depois de fervido e esfriado ficava petrificado na geladeira da sábia
senhora.
Quis o destino,
que os grilos começassem a surgir mortos, enrijecidos, duros de doer, em cima
da pedra de leite na geladeira da idosa. Qual não era o seu espanto, ao abrir o
eletrodoméstico para retirar o leite que seria consumido no café da manhã. Mais
espantoso ainda, o sinismo das jovens que forjavam cara de nojo, enquanto
dominavam uma terrível vontade de cair no riso.
A ingenuidade da
amável senhora optou logo pela explicação que lhe pareceu mais sensata: Os
grilos voavam e entravam em sua geladeira sem que ela visse! De outra forma,
não poderia ser! Esses insetos são muito rápidos, de modo que ela não os podia
ver!
Pobre senhora,
ignorava o quanto as jovens se deleitavam e debatiam em gargalhadas à custa de sua
inocência. Pobres grilos. Criaturas saltitantes, pinotantes, que num arroubo de
existência, compõem justamente a base na escala alimentar do mundo dos sencientes.
(?)
E o número de
grilos congelados foi crescendo em proporção aritmética, a ponto de a senhora descartar
a primeira hipótese. Já irritada com o insistente infortúnio dos grilos camicases,
Vovó Ouro pensou um bocado e concluiu: A geladeira só pode estar furada!
Foi queixar-se
com o esposo, que era o mais cético da dupla. ‘O QUÊ DIOURO???’. A nova
hipótese, no entender do seu consorte, era absurda!
As duas
desocupadas tomavam precauções para que o suposto fenômeno continuasse a gerar
boas risadas. O ápice do mistério, conforme observado pela jovem de juízo mais
razoável, se revelou quando o Vovô, de tão crédulo, foi flagrado afastando a
geladeira para certificar-se de que, de fato, NÃO estava furada.
Como em tudo
nessa vida, as histórias precisam ter um fim apropriado. As jovens decidiram
cessar os abusos. Notadamente, a mais incauta das duas, que arrefeceu seu
talento para caçar grilos inocentes e lançá-los em glacial agonia.
Talvez porque já
tinham se divertido o bastante. Talvez por indulgência às vítimas. Talvez
porque receavam que o mistério fosse descoberto.
O fato é que,
ainda hoje, naquela família, o estranho caso da Geladeira Furada com os
Involuntários Grilos Camicases segue como um mistério irresolvido.
AHHH...
BOA!!!
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