As palavras arrastam consigo a experiência de quem as escreve. Como viveu, o que viu ou ouviu. Delas também remontam experiências alheias assimiladas pela leitura ou pela convivência com outras pessoas. Somado a tais aspectos, existe a criatividade de quem se julga capaz de inventar mundos e sensações. Posto assim, elas podem apresentar cores, odores e até simular movimentos. Podem amargar o dia, marejar os olhos, ou ministrar sorrisos.
Qual a destinação do que escrevo? Que
público atinge? Quais efeitos produz? Como sou vista (visto) pelos leitores? Percebo,
por minha experiência, que o escritor tem necessidade genuína de ser lido e de
ser aceito, não necessariamente na mesma medida. Se for polêmico, ele quer
convencer ou incomodar alguém ou um grupo definido.
Não há escritor dotado de um selo de
neutralidade, e quem quiser parecer desprovido de intenções certamente não
convencerá sequer as traças que lhe roem os textos. As palavras não eclodem
estupefatas de mentes esterilizadas e embaladas a vácuo por uma deidade
benfazeja.
De qualquer modo, a intenção de quem escreve
é seduzir. É introduzir algo de si no universo desconhecido que é o outro.
Escrever, portanto, é uma experiência fálica. É seminilizar a imaginação,
pensamentos e emoções de outrem.
Ao lançar-lhe a palavra como isca, eu o
atraio até mim; ao meu universo eu o apresento. Eu o cubro com o pó das cinzas
dos demônios, cuja vida soprei outrora num resvalar de luxúria incriada. Eu o
apresento às fênix destes demônios, em êxtase renascidos por meus dedos. Eu o
envolvo e o fecundo com a víbora de um olhar oscilante entre alguma revelação e
o precioso enigma.
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